Redução do IPI nunca chegou ao bolso do consumidor

Se por um lado alguns carros 0 km ficaram mais baratos, por outro lado os usados e seminovos ficaram mais desvalorizados, obrigando o consumidor a desembolsar mais dinheiro na hora de trocar o seu veículo, aumentando ainda mais o número de brasileiros endividados.


Olhando por esta perspectiva, o brasileiro nunca viu, ou, sentiu o efeito do IPI reduzido em seu bolso. Pelo contrário. O que se viu, foi um bando de desesperados, ansiosos por trocar de carro, contraindo dívidas que dificilmente conseguirão pagar. Mesmo porque, no Brasil, não é nada fácil manter um carro. A prestação somada ao combustível (um dos mais caros do mundo), mais manutenção (que já vai estar alta) e por último, e não menos importante, todas as taxas e impostos como IPVA, Controlar, pedágios etc. só vão levar o consumidor a um fim: vender o carro para pagar as contas.

Se boa parte dos brasileiros tivessem feito as contas no papel, ou somado em qualquer calculadora chinesa, provavelmente não teriam trocado de carro. Talvez até chegassem a conclusão de que nem precisavam de um novo carro. Mas com a ideia fixada pelas propagandas enganosas, quiseram aproveitar uma vantagem (falsa), correndo para as concessionárias para comprar algo que, no fundo, não compensava.
O preço do usado caiu muito, mais que o do zero km. Com o passar dos meses isso só foi piorando. E no momento, o usado continua desvalorizando enquanto o preço do zero km estacionou, ou, em alguns casos, houve até aumento. Numa situação como essa, qualquer pessoa perguntaria, “quem está aproveitando o IPI reduzido e trocando de carro? Quem são os loucos que estão fazendo um negócio desses?”.

Só quem tinha o dinheiro na mão, consórcio ou a “sorte dos irlandeses” e conseguiu vender seu carro um dia antes do anuncio da redução do IPI, provavelmente fez um ótimo negócio. Mas o que se viu foi o seguinte. O zero km, mesmo que com certa timidez, ficou mais barato. Os vendedores, com estoques cheios, faziam de tudo para “limpar o pátio” e o preço final, em boa parte das negociações, era ainda mais baixo que o anunciado. Havia até concorrência entre concessionárias da mesma marca. Já o preço do usado, que entrava na troca, estava anos luz de distância da tabela FIPE. Ainda hoje é comum encontrar um comprador de um Uno pagando mais barato numa concessionária que em outra, numa mesma cidade.

Mas os responsáveis pelo endividamento da população, que trocou o usado por um carro novo, por incrível que pareça não foi a política econômica do governo. Os principais responsáveis foram os donos de concessionárias e revendas mal intencionados que, até hoje, tentam lucrar em cima do consumidor leigo. Está se tornando comum ver subavaliações de carros com depreciação acima dos cinco mil. Por exemplo, um VW Gol 1.0 GIV cuja tabela FIPE é de R$16.500, em certas revendas ele foi avaliado por R$10.000, para depois ser vendido por cerca de 16 mil.

Na base da troca a avaliação melhora um pouco, mas de nada adianta já que o carro novo vai estar no preço de tabela. Ou seja, o consumidor, no exemplo acima, vai vender seu carro por cerca de 6 mil abaixo da tabela e vai comprar outro pelo preço da tabela. E a justificativa das concessionárias e revendas é sempre a mesma: “hoje em dia não podemos ir pela tabela”, “eu tenho que pagar funcionário, luz, aluguel”. Nada, NADA, justifica um negócio desse tipo. É claro que não são todos os revendedores que trabalham dessa maneira. Existem pessoas honestas neste ramo. Mas infelizmente, hoje, a maioria está usando dessas artimanhas para super lucrar em cima de quem conhece pouco, ou quase nada do mercado.


Portanto, a perspectiva para o futuro não é nada boa. A redução do IPI foi pura ilusão. Como sempre acontece no Brasil, foi bom para poucos. A grande maioria fez um péssimo negócio e se endividou ainda mais. Quando essa “bolha” estourar, o preço dos usados pode cair ainda mais. As revendas vão pagar ainda menos, e nem IPI, nem juros baixos, muito menos as “bolsas” do governo vão segurar a quebradeira geral. É como diz aquele velho ditado: “Alegria de pobre, dura pouco…”

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